O senhor Febrônio Leandro da Silva é
filho de João Leandro da Silva e Januária Maria da Conceição, nasceu no sítio Talhado,
município de Vitória, atualmente Marcelino Vieira, no dia 23 de junho de
1911.De família humilde, composta por 05(cinco) filhos (Pedro Leandro, Maria do
Carmo, Maria dos Anjos, Aventura e o próprio Febrônio), criou-se ao redor do
engenho de cana-de-açúcar da fazenda em que os pais moravam, a vida era
dividida entre os trabalhos no engenho durante o período de moagem e no
trabalho da terra quando não se tinha cana para moer. Na agricultura cultivou
os alimentos de subsistência do nordestino (feijão, arroz, batata-doce e
algodão), criou bovinos, caprinos e peixes. Era de um tempo em que predominava
o ditado “na terra que se planta dá” e era na terra que ajudava seus pais a
cultivarem o necessário para sobrevivência.
Durante
16 (dezesseis) anos seu Febrônio também foi vaqueiro e na lida com o gado
acabava ouvindo “velsos”, de tanto ouvir acabou por aprender alguns e
consequentemente passou a criar os próprios, porém nunca teve condições
financeiras de publicá-los em forma de livretos, fato que não o impediu de até
hoje contar/cantar seus “velsos”.
Casou-se
com a senhora Acelina Araújo com quem teve 09 (nove) filhos: Creuza Araújo da
Silva (11/01/36 in memória), José
Araújo da Silva (11/01/38), Antônio Araújo da Silva (03/07/39), Maria do Carmo
Araújo Oliveira (31/12/40 in memória),
Raimundo Araújo da Silva (17/03/42), Maria Adalgisa Araújo (03/03/44), Maria
Ilza de Araújo (24/04/46), Maria Antônia Araújo Santana (28/12/49) e Maria
Auxiliadora Araújo Martins (18/02/53). Ao casar passou a morar no sítio Caibro
que comprou juntamente com o irmão Cândido. Era um terreno pequeno de apenas 12
km, neste local passou por muitas dificuldades inclusive escassez de água,
visto que o açude mais próximo se localizava na serra Panati, distante quase
duas léguas do sítio.
Posteriormente
seu Febrônio mudou-se com a família para o sítio Cantinho, no município de
Encanto, continuou a trabalhar na agricultura e educou os filhos com princípios
morais e religiosos que estão sólidos até hoje. Além dos “velsos” que seu
Febrônio costumava produzir também ficou conhecido por participar da Segunda
Guerra Mundial como combatente na Barreira do Inferno em Natal, ainda nos dias
atuais conta-nos sobre quão grandiosos eram os aviões que pousavam na capital
do Estado, a ponto de ser comparado a um pássaro gigante.
Após a morte de sua companheira
matrimonial passou a morar com a filha Auxiliadora Martins e atualmente possui
25 (vinte e cinco) netos, 31 (trinta e um) bisnetos e 15 (quinze) trinetos. Uma
das grandes alegrias do centenário Febrônio era distribuir balinhas para as
crianças que passavam a porta de sua casa, costume que mantém até hoje com as
pessoas que vão visitá-lo e conversar um pouco ou como ele mesmo afirma
“pessoas que vem prosear um cadim”.
Outro aspecto da vida do centenário
Febrônio que chama atenção é sua religiosidade, há mais de 60 anos ele
tornou-se responsável pela escavação do local onde é colocado o mastro da
bandeira de São Sebastião, padroeiro do Encanto, é colocado. Segundo reportagem
feita pelo jornal O Mossoroense (11 de janeiro de 2005), seu Febrônio havia
afirmado:
É a forma como posso contribuir para
a realização da festa. Faço a escavação do local deste 1947 e acho que este
será o meu último ano. Vou passar o ofício aos meus netos que devem continuar a
cavar o buraco nas próximas festas, mantendo a tradição (JORNAL O MOSSOROENSE).
Depois que a idade o impossibilitou de realizar
esta tarefa, transmitiu-a aos seus descendentes, mas mesmo assim sempre está
presente sentado ao lado do local onde é feita a escavação, conforme podemos
observar na foto abaixo de 10 de janeiro de 2017.Junto aos filhos, netos e
bisnetos seu Febrônio mantém viva a tradição religiosa.
Foto retirada da página Paróquia do Encanto RN via Facebook.
Além de São Sebastião, seu Febrônio também tem devoção por Nossa Senhora
da Conceição e em uma de nossas conversas – advindas da realização desta
pesquisa- mostrou-nos com entusiasmo as imagens dos santos que cultua e junto
as quais quis posar para foto, conforme registro a seguir.
Mesmo
sendo um cordelista conhecido na cidade de Encanto e até no estado do RN - já
foi entrevistado por alunos e professores das escolas locais e por estudantes
universitários de Mossoró e Natal – seu Febrônio não possui sequer um livreto
de cordel seu já publicado, há apenas o livro Foi assim que ouvi dizer, o qual foi escrito a partir de rodas de
conversas feitas com seu Febrônio e outros moradores da vida. No livro supracitado,
aluna Denise Mayara de Souza Pessoa materializou um dos cordéis de seu Febrônio
intitulado História de Sabino, no
qual ele conta sobre a vida de um dos cangaceiros do bando de Lampião.
Como todo cordel traz trechos
ficcionais, contudo representa o único registro escrito que se tem notícia da
produção cordelística do centenário poeta. A família do mesmo ao realizar a
festa de seu centenário produziu um documentário com amigos e parentes no
intuito de homenageá-lo e como o cordel é sua marca também há um registro áudio
visual dele recitando um de seus cordéis – fizemos a transcrição que se
encontra nos anexos-. São raros os registros dos cordéis de seu Febrônio, porém
é inegável sua contribuição para a cultura popular, mesmo analfabeto produziu
lindos “velsos” que se tornaram imortalizados em suas conversas e que nos serve
de legado imaterial da cultura encantense.
No ano de 2017 a professora e pesquisadora
Paula Carmen do Nascimento Silva, que leciona na Escola Estadual Cid Rosado,
desenvolveu o projeto De rima em rima se faz cordel com o objetivo de
oportunizar aos seus alunos e a
comunidade encantense conhecer mais sobre a literatura de cordel e, em
específico, conhecer sobre os cordelistas encantenses e suas produções (seus “velsos”
impressos ou orais).Esse projeto foi desenvolvido em parceria com os alunos da
referida escola e recebeu um investimento financeiro simbólico da Secretaria
Estadual de Educação do Estado do Rio Grande do Norte que possibilitou a
criação da Cordelteca Febrônio Leandro
da Silva, a qual foi inaugurada em 26 de dezembro de 2017 e localiza-se na
Escola Estadual Cid Rosado.
A inauguração da Cordelteca Febrônio Leandro
da Silva contou com a presença de seu patrono e de muitos de seus familiares
que prestigiaram o cordelista centenário, o qual foi homenageado também com um
evento cultural realizado em praça pública e que contou com apresentações culturais
de dança, de recitação de cordéis e de emboladas pelos alunos da Escola
Estadual Cid Rosado, assim como também teve um show de viola com os poetas Jonas
Bezerra e Felipe Pereira.
O evento acima descrito também contou com o
lançamento do livro De rima em rima se faz cordel que foi escrito pelos
alunos da professora Paula Carmen do Nascimento Silva e de sua colega de
trabalho Antonia Binidita Tiadósio. O livro é fruto de muito esforço das
professoras e alunos que envolvidos pela magia da literatura de cordel abordam
em seus versos diversos temas ligados a cultura nordestina e a educação. Se desejar
conhecer esse livro e o acervo da Cordelteca Febrônio Leandro da Silva,
visite-a no endereço Rua José Apolônio da Costa, 33, no bairro São Luís na
cidade do Encanto.
Nesse ano de 2021, Seu Febrônio completou 110 anos, sua família comemorou essa data natalícia com uma cerimônia restrita aos parentes mais próximos dado o contexto da pandemia do coronavírus. Contudo, é uma data muito significativa e não poderia deixar de ser comemorada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário