terça-feira, 20 de julho de 2021

BIOGRAFIA DE SEU FEBRÔNIO - Paula Carmen do Nascimento Silva

 

O senhor Febrônio Leandro da Silva é filho de João Leandro da Silva e Januária Maria da Conceição, nasceu no sítio Talhado, município de Vitória, atualmente Marcelino Vieira, no dia 23 de junho de 1911.De família humilde, composta por 05(cinco) filhos (Pedro Leandro, Maria do Carmo, Maria dos Anjos, Aventura e o próprio Febrônio), criou-se ao redor do engenho de cana-de-açúcar da fazenda em que os pais moravam, a vida era dividida entre os trabalhos no engenho durante o período de moagem e no trabalho da terra quando não se tinha cana para moer. Na agricultura cultivou os alimentos de subsistência do nordestino (feijão, arroz, batata-doce e algodão), criou bovinos, caprinos e peixes. Era de um tempo em que predominava o ditado “na terra que se planta dá” e era na terra que ajudava seus pais a cultivarem o necessário para sobrevivência.

            Durante 16 (dezesseis) anos seu Febrônio também foi vaqueiro e na lida com o gado acabava ouvindo “velsos”, de tanto ouvir acabou por aprender alguns e consequentemente passou a criar os próprios, porém nunca teve condições financeiras de publicá-los em forma de livretos, fato que não o impediu de até hoje contar/cantar seus “velsos”.

            Casou-se com a senhora Acelina Araújo com quem teve 09 (nove) filhos: Creuza Araújo da Silva (11/01/36 in memória), José Araújo da Silva (11/01/38), Antônio Araújo da Silva (03/07/39), Maria do Carmo Araújo Oliveira (31/12/40 in memória), Raimundo Araújo da Silva (17/03/42), Maria Adalgisa Araújo (03/03/44), Maria Ilza de Araújo (24/04/46), Maria Antônia Araújo Santana (28/12/49) e Maria Auxiliadora Araújo Martins (18/02/53). Ao casar passou a morar no sítio Caibro que comprou juntamente com o irmão Cândido. Era um terreno pequeno de apenas 12 km, neste local passou por muitas dificuldades inclusive escassez de água, visto que o açude mais próximo se localizava na serra Panati, distante quase duas léguas do sítio.

            Posteriormente seu Febrônio mudou-se com a família para o sítio Cantinho, no município de Encanto, continuou a trabalhar na agricultura e educou os filhos com princípios morais e religiosos que estão sólidos até hoje. Além dos “velsos” que seu Febrônio costumava produzir também ficou conhecido por participar da Segunda Guerra Mundial como combatente na Barreira do Inferno em Natal, ainda nos dias atuais conta-nos sobre quão grandiosos eram os aviões que pousavam na capital do Estado, a ponto de ser comparado a um pássaro gigante.

Após a morte de sua companheira matrimonial passou a morar com a filha Auxiliadora Martins e atualmente possui 25 (vinte e cinco) netos, 31 (trinta e um) bisnetos e 15 (quinze) trinetos. Uma das grandes alegrias do centenário Febrônio era distribuir balinhas para as crianças que passavam a porta de sua casa, costume que mantém até hoje com as pessoas que vão visitá-lo e conversar um pouco ou como ele mesmo afirma “pessoas que vem prosear um cadim”.

Outro aspecto da vida do centenário Febrônio que chama atenção é sua religiosidade, há mais de 60 anos ele tornou-se responsável pela escavação do local onde é colocado o mastro da bandeira de São Sebastião, padroeiro do Encanto, é colocado. Segundo reportagem feita pelo jornal O Mossoroense (11 de janeiro de 2005), seu Febrônio havia afirmado:

 

É a forma como posso contribuir para a realização da festa. Faço a escavação do local deste 1947 e acho que este será o meu último ano. Vou passar o ofício aos meus netos que devem continuar a cavar o buraco nas próximas festas, mantendo a tradição (JORNAL O MOSSOROENSE).

           

Depois que a idade o impossibilitou de realizar esta tarefa, transmitiu-a aos seus descendentes, mas mesmo assim sempre está presente sentado ao lado do local onde é feita a escavação, conforme podemos observar na foto abaixo de 10 de janeiro de 2017.Junto aos filhos, netos e bisnetos seu Febrônio mantém viva a tradição religiosa.

                                       Foto retirada da página Paróquia do Encanto RN via Facebook.

            Além de São Sebastião, seu Febrônio também tem devoção por Nossa Senhora da Conceição e em uma de nossas conversas – advindas da realização desta pesquisa- mostrou-nos com entusiasmo as imagens dos santos que cultua e junto as quais quis posar para foto, conforme registro a seguir.



Febrônio Leandro da Silva
Registro feito pela pesquisadora Paula Carmen do Nascimento Silva

           

                  Mesmo sendo um cordelista conhecido na cidade de Encanto e até no estado do RN - já foi entrevistado por alunos e professores das escolas locais e por estudantes universitários de Mossoró e Natal – seu Febrônio não possui sequer um livreto de cordel seu já publicado, há apenas o livro Foi assim que ouvi dizer, o qual foi escrito a partir de rodas de conversas feitas com seu Febrônio e outros moradores da vida. No livro supracitado, aluna Denise Mayara de Souza Pessoa materializou um dos cordéis de seu Febrônio intitulado História de Sabino, no qual ele conta sobre a vida de um dos cangaceiros do bando de Lampião.

Como todo cordel traz trechos ficcionais, contudo representa o único registro escrito que se tem notícia da produção cordelística do centenário poeta. A família do mesmo ao realizar a festa de seu centenário produziu um documentário com amigos e parentes no intuito de homenageá-lo e como o cordel é sua marca também há um registro áudio visual dele recitando um de seus cordéis – fizemos a transcrição que se encontra nos anexos-. São raros os registros dos cordéis de seu Febrônio, porém é inegável sua contribuição para a cultura popular, mesmo analfabeto produziu lindos “velsos” que se tornaram imortalizados em suas conversas e que nos serve de legado imaterial da cultura encantense.

             No ano de 2017 a professora e pesquisadora Paula Carmen do Nascimento Silva, que leciona na Escola Estadual Cid Rosado, desenvolveu o projeto De rima em rima se faz cordel com o objetivo de oportunizar aos seus alunos  e a comunidade encantense conhecer mais sobre a literatura de cordel e, em específico, conhecer sobre os cordelistas encantenses e suas produções (seus “velsos” impressos ou orais).Esse projeto foi desenvolvido em parceria com os alunos da referida escola e recebeu um investimento financeiro simbólico da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Rio Grande do Norte que possibilitou a criação da  Cordelteca Febrônio Leandro da Silva, a qual foi inaugurada em 26 de dezembro de 2017 e localiza-se na Escola Estadual Cid Rosado.

             A inauguração da Cordelteca Febrônio Leandro da Silva contou com a presença de seu patrono e de muitos de seus familiares que prestigiaram o cordelista centenário, o qual foi homenageado também com um evento cultural realizado em praça pública e que contou com apresentações culturais de dança, de recitação de cordéis e de emboladas pelos alunos da Escola Estadual Cid Rosado, assim como também teve um show de viola com os poetas Jonas Bezerra e Felipe Pereira.

O evento acima descrito também contou com o lançamento do livro De rima em rima se faz cordel que foi escrito pelos alunos da professora Paula Carmen do Nascimento Silva e de sua colega de trabalho Antonia Binidita Tiadósio. O livro é fruto de muito esforço das professoras e alunos que envolvidos pela magia da literatura de cordel abordam em seus versos diversos temas ligados a cultura nordestina e a educação. Se desejar conhecer esse livro e o acervo da Cordelteca Febrônio Leandro da Silva, visite-a no endereço Rua José Apolônio da Costa, 33, no bairro São Luís na cidade do Encanto.

Nesse ano de 2021, Seu Febrônio completou 110 anos, sua família comemorou essa data natalícia com uma cerimônia restrita aos parentes mais próximos dado o contexto da pandemia do coronavírus. Contudo, é uma data muito significativa e não poderia deixar de ser comemorada.

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